Comunicado do colectivo “El Libertario” (traduzido ao português por o Colectivo Libertario Evora do que copiamos e colamos):
Os níveis de autonomia de Sabino Romero na sua luta motivaram uma estratégia múltipla face a todos os centros de poder regional e nacional interessados em continuar a exploração dos territórios indígenas. No ano de 2009 duas comunidades, uma delas com Sabino Romero, ocuparam uma herdade em Chaktapa, Zulia, para contrariar a paragem no processo de demarcação. O governo nacional iniciou então uma estratégia para dividir os ocupantes e, num golpe obscuro, três indígenas foram assassinados. Foi uma desculpa perfeita para tomarem militarmente a herdade e criminalizar Sabino Romero, que esteve preso 18 meses acusado de homicídio. Enquanto os criadores de gado o acusavam de ser um “ladrão de gado”, diversos sectores da região endureciam a sua guerra suja contra a luta indígena, com o apoio de aliados em Caracas: o ministro do interior e da justiça Tareck El Aissami e a ministra dos povos indígenas Nicia Maldonado. Enquanto o chavismo do aparelho distraia a luta indígena com dilações, desculpas e espectáculos mediáticos em cada 12 de Outubro, outros sectores do chavismo isolavam Sabino Romero e e os Yukpas da solidariedade de outros movimentos sociais e revolucionários independentes do controlo de Miraflores. A estratégia, a partir de todas as frentes, foi posta em marcha por todos e cada um dos beneficiários do sector primário da economia exportador de minerais e energia no país.
Estas versões contaram com a amplificação feita a partir do jornal oficialista Panorama, conhecido pelas generosas tabelas publicitárias recebidas das estatais PDVSA, Carpozulia e Carbozulia, e avalizada pelos organismos policiais e militares, os mesmos que têm vindo a infligir maus tratos às comunidades indígenas da serra de Perijá em cumplicidade com os criadores de gado da zona. É muito significativo que o plano para o assassinar que Sabino já vinha denunciando acontecesse agora quando o estado de Zulia está sob o controlo político do bolivarianismo. Como no caso de outros lutadores sociais que foram assassinados os escândalos mediáticos oficiais vão servir de aval para a impunidade.
A luta de Sabino Romero desenvolvia-se, no fundo, contra o modelo de desenvolvimento baseado na extracção e na comercialização dos recursos petrolíferos, de gas e minerais para o mercado mundial, papel atribuído à Venezuela pela globalização económica. O desenvolvimento do capitalismo petrolífero estatal minimiza as consequências sobre o meio ambiente, bem como sobre as comunidades camponesas e indígenas. A verdadeira causa para a paragem na demarcação e entrega dos territórios indígenas é que nelas existem recursos minerais para exportação.Por isso a resistência de Sabino era uma resistência ao modelo económico. Por isso havia que tirá-lo dali, de qualquer maneira. Por isso 13 yukpas foram mortos e todos ficaram impunes até hoje. E como se mostrou no processo contra as organizações que apoiavam a sua luta (Homoetnatura y Provea) era preciso cortar-lhes todos os apoios possíveis.
A partir de “El Libertario” repudiaremos e denunciaremos por todos os meios ao nosso alcance o assassinato de Sabino Romero e continuaremos a defender as lutas indígenas como todas as outras lutas sociais autónomas no país. Sabino junta-se a uma lista de lutadores assassinados durante o governo bolivariano por defenderem os seus direitos, tais como Mijaíl Martínez, Luis Hernández, Richard Gallardo e Carlos Requena.
A única divisão que enquanto anarquistas reconhecemos é entre governantes e governados, entre poderosos e fracos, patrões e trabalhadores, ou seja, vítima e vitimizadores. Por isso não pediremos nada aos seus vitimizadores e não esperamos nada da sua farsa de “justiça”, nem das lágrimas de crocodilo dos burocratas que conduziram Sabino à morte.. Como ontem, hoje e amanhã continuaremos mobilizados e ao lado de todos aqueles que lutam neste país contra o poder, esperando o dia que o sangue dos nossos possa ser reivindicado e vingado.
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