19 jul 2013

Entrevista: Anarquistas na Insurreição Turca

Nunha entrada anterior sobre a revolta en Turquía (-AQUÍ), algún lector deixou nos comentarios un enlace a Portugal Indymedia (-AQUÍ) a esta interesante entrevista a activistas anarquistas turcos, publicada orixinalmente en Inglés por CrimethInc (-AQUÍ), e que agora nós reproducimos na súa versión portuguesa:

por CrimethInc. - 4 de julho de 2013.

[Para dar sequência à nossa cobertura sobre a insurreição na Turquia, que teve início na Praça Taksim, conduzimos uma entrevista com anarquistas em Istambul. Eles falam sobre os antecedentes da revolta, a relação entre esta e outras ao redor do mundo, e suas implicações para o futuro da Turquia.]

Pergunta > Que organizações pré-existentes participaram desta nova explosão de luta social?

Resposta < Uma questão muito importante sobre esta rebelião é que não havia nenhuma organização política liderando o movimento. Sem líderes, sem partidos. A explosão apareceu no terceiro dia de protestos sobre parques e árvores. As pessoas foram às ruas em função da violência e brutalidade da polícia - isto é, a violência do Estado. Haviam também outras motivações conduzindo as pessoas para as ruas, mas nenhuma delas está relacionada a qualquer organização política. É um movimento autônomo. Pergunta > Quais táticas foram as mais importantes nos conflitos? Onde estas táticas se desenvolveram originalmente? Como se espalharam?

Resposta < Apesar de não existir nenhuma organização política direcionando as pessoas, existem anarquistas, esquerdistas, e outras pessoas que já se organizavam. É importante ter experiência em confrontos com o Estado; indivíduos destes grupos políticos conversam com os outros sobre como agir nas ruas, e todo mundo decide o que fazer. Houveram algumas iniciativas importantes, como construções de barricadas, e atrás delas a base de apoio de pessoas responsáveis por primeiros-socorros, alimentação, e discutindo quais seriam os próximos passos. As pessoas estavam ansiosas para conversar mais sobre o que fazer. Isso é uma novidade aqui. A informação era compartilhada via panfletagem na rua e através das mídias sociais, sobre como lidar com as movimentações da polícia, como responder às bombas de gás, e os direitos das pessoas presas. Tenho que admitir que utilizaram o Facebook e o Twitter de modo útil. Pergunta > Compare o início da ocupação da Praça Taksim com protestos anteriores, como as manifestações do 1º de Maio de 2013. Em ambos os casos, quem eram os organizadores, e quais eram seus objetivos originais? Porque a ocupação da Praça Taksim, particularmente, gerou faíscas motivadoras de ampla e renovada participação?

Resposta < Ok, temos que esclarecer o ponto inicial dos protestos. Este ano foi o ano mais repressivo para as reações sociais. O governo baniu os manifestantes da praça durante o 1º de Maio. Este foi o ponto inicial, eu acho. Também houve conflito durante o 1º de Maio. E após esse dia, não era mais permitido realizar protesto algum na praça Taksim. O governo proibiu qualquer tipo de manifestação. Isso, portanto, indignou as pessoas. Fomos para as ruas após o 1º de Maio protestar contra diversas coisas, mas principalmente acerca desta situação. A novidade sobre a ocupação não é sobre demandas ou ideias. A novidade é a reação das pessoas que viram a violência do Estado. Antes da rebelião, coisas como "barricadas", "máscaras de gás", e "jogar pedras na polícia" pareciam noções negativas para as pessoas. Isso mudou muito. Agora as pessoas torcem pelo gás lacrimogêneo e cantam canções sobre as barricadas. Pergunta > Como as lutas sociais gregas desde dezembro de 2008 moldaram a imaginação do povo turco? E as recentes insurreições no Norte da África, e o movimento Occupy nos Estados Unidos?

Resposta < Creio que existam algumas similaridades entre a rebelião de 2008 na Grécia e 2013 na Turquia. Existem alguns fatos econômicos em ambos os casos, mas estas não são as razões reais. As situações são, na realidade, expressões do povo contra o terror e a violência de Estado. Quando a polícia assassinou Alexis [Grigoropoulos], a situação mudou. A legitimidade do Estado desapareceu. As pessoas compreenderam o real propósito do Estado. Esta é a situação na Turquia agora. A legitimidade do Estado desapareceu. Os eventos de 2008 na Grécia atraíram a atenção dos anarquistas na Turquia. Houveram ações solidárias (nas quais estávamos diretamente envolvidos). Nos deu a oportunidade de falar sobre anarquismo com pessoas. Não sei se isso cumpriu algum papel na auto-organização da nossa sociedade. Mas ao menos, posso dizer que: os rebeldes na Grécia influenciaram a imaginação dos Anarquistas na Turquia. Após 2008, outra rebelião ocorreu na Grécia, em 2010. Nós atribuímos mais importância a esta última, porque foi então que os anarquistas especialmente começaram a organizar a vida e modificar seu contexto. Isso é importante para o anarquismo e também para a sociedade como um todo. Todas as análises serão deficientes sem a experiência de possibilidades futuras de organizar nossas vidas. Nosso grupo, Ação Revolucionária Anarquista, teve a chance de discutir as semelhanças e diferenças com os camaradas que vieram de Tessalônica e que estavam nas rebeliões de 2008 e 2010. Nós organizamos uma assembleia na Praça Taksim com os camaradas que vieram em solidariedade. Em relação ao movimento Occupy, pareciam atrair as pessoas. Mas tenho que dizer: a rebelião turca é muito mais do que demandas reformistas como aquelas dos Ocupas ao redor do mundo. Quem abraçou o movimento Occupy na Turquia foram grupos liberais que discursam no geral sobre humanismo, democracia de Estado, ambientalismo, e outras questões como estas. Esta é a crítica do Occupy pelo nosso coletivo, Ação Revolucionária Anarquista. Pergunta > Os participantes do protesto observam alguma conexão entre a oposição ao poder de Erdogan na Turquia e os conflitos em andamento contra a ordem da Irmandade Muçulmana no Egito? Quão forte é o diálogo entre os que lutam na Turquia e no Egito?

Resposta < Não há uma relação forte entre os movimentos na Turquia e no Egito. Temos alguns contatos anarquistas, compartilhamos nossos pensamentos sobre a rebelião no Egito, e eles compartilharam suas respectivas ideias acerca da rebelião recente na Turquia. Mas é muito difícil organizar uma luta comum. Precisamos, primeiramente, organizar as sociedades. Algumas pessoas nas ruas usam bandeiras turcas e Kemal, que são símbolos do kemalismo. O principal partido de oposição quer direcionar o movimento, mas é realmente difícil para eles, porque eles não têm qualquer perspectiva lógica para mobilizar o movimento. Às vezes utilizam a mesma linguagem do governo - especialmente quando falam sobre pessoas ou grupos que entram em confronto direto com a polícia. As demandas do povo que está nas ruas não pode ser limitada por qualquer eleição ou referendo. As pessoas que erguem os símbolos kemalistas estão nas ruas com Curdos, esquerdistas e anarquistas. Estão agora compreendendo a situação e mudando seu pensamento. Estão compreendendo o que é, de fato, "política". No entanto, como eu havia dito, também existem pessoas do principal partido de oposição nas ruas que gostariam de mudar os métodos de ação. Pergunta > Qual é o efeito da retórica amplamente relatada por parte dos manifestantes como "não somos ativistas, somos o povo" ou "eu não sou radical, sou um cidadão cumpridor das leis"?

Resposta < É preciso separar as duas expressões. "Nós não somos ativistas, somos o povo" é um modo muito poderoso de expressar o espírito das ações. O Estado tentou marginalizar as ações no começo. Esta é a estratégia geral do governo: porque eles obtiveram os votos da maioria por 11 anos, estão tentando definir o resto como "marginais". A oposição nas ruas foi completamente ignorada e descrita como marginal na mídia burguesa - por exemplo, no 1º de Maio supracitado. Entretanto, a revolta da Praça Taksim modificou este conceito. As pessoas nas ruas eram diversificadas. Diferentes grupos de pessoas foram oprimidas de diversas maneiras. Através do governo do AKP [Partido da Justiça e Desenvolvimento, com origem no movimento islâmico], muitas emendas afetaram diferentes grupos como trabalhadores, mulheres, LGBTs, Alevis, minorias. Portanto, "o marginal" perdeu seu significado, porque todos se tornaram "marginais", e então "o marginal" se transformou em "o povo". O Primeiro Ministro chamou o povo envolvido nas ações de “bir kaç çapulcu,” que significa "alguns arruaceiros". As pessoas absorveram esta retórica contra aqueles que tentam marginalizar as ações. Por exemplo, quando as ações foram reproduzidas em um canal de TV como "ações marginais de grupos marginais", um homem entre os manifestantes apareceu nas câmeras, estapeou o repórter, e perguntou "Quem você disse que é marginal?". Em uma reportagem semelhante, uma mulher interviu nas câmeras perguntando "Quem é marginal?". Por outro lado, a mídia kemalista enfatiza o caráter despolitizado das pessoas nas ruas. Isso é importante para eles poderem controlar o movimento. Mas a realidade não é essa. "Eu sou um cidadão cumpridor das leis" não é uma retórica comum entre os manifestantes. O caráter anarquista do movimento é muito claro. Outra retórica é mais ou menos assim: "Somos o povo nas ruas e contra toda a polícia, ACAB”. Pergunta > Houveram debates sobre violência em oposição a não-violência? Como a maioria dos manifestantes se sentem sobre o que tem o "direito" de fazer nos protestos"? Como isso se transformou? E como as pessoas reagiram àqueles que tomaram ações mais militantes?

Resposta < Auto-defesa contra a violência não é nem mesmo uma questão durante os confrontos. Mas alguns grupos esquerdistas e kemalistas quiseram moldar o movimento como algo não-violento. Porém, por exemplo, dois dias atrás houve uma comemoração na praça em homenagem às pessoas assassinadas pela polícia. A ação para esta comemoração era apenas colocar flores na praça - mas a polícia foi violenta novamente. Estas situações modificaram a perspectiva das pessoas a favor da "auto-defesa" contra as forças violentas da polícia. Através do motim, muitos bancos e corporações multinacionais foram depredados, mas também algumas vendas locais que são reconhecidamente pertencentes a fascistas, ou que pertencem ao major de Istambul, ou pessoas próximas do governo. A ira do povo foi concreta e o espírito da revolta efetivou um caráter militante. O slogan em um dos cartazes pode ajudar a explicar: "Iremos tomar de volta nossa liberdade com interesse, o qual nos foi retirado através de prestações - Grupos de Interesse". Pergunta > Qual o papel que as mídias sociais estão cumprindo no sentido de expandir o movimento, e também de limitá-lo?

Resposta < Quando canais de TV, jornais, e sites da mídia burguesa censuram as ações, as pessoas usam o Facebook informando umas as outras não apenas sobre as notícias, mas também sobre informações necessárias para as próximas ações. O Twitter também foi outro recurso positivo para os manifestantes. As pessoas compartilhavam notícias sobre a situação nas barricadas e onde se posicionavam os policiais, mas também anunciando o endereço das enfermarias e as necessidades do povo. Utilizaram a "nova mídia" para organizar solidariedade e suporte assim como ações. Mesmo hoje, há bastante material em circulação, como fotos ou vídeos de violência policial. As pessoas estão reagindo à mídia burguesa e utilizando com efetividade a mídia social para comunicação. Pergunta > Quais das estratégias repressivas das autoridades falharam, e quais obtiveram sucesso?

Resposta < Ainda estão utilizando violência. Agora, a resistência é mais legítima. Os valores das pessoas se transformaram. O governo está falando sobre perguntar para o povo sobre cada estratégia política. Mas agora, o povo está tentando falar sobre estratégias políticas que quer realizar independente do Estado. Por outro lado, o Estado está indo na mesma direção. Deram início a uma caça as bruxas nas mídias sociais. Os perfis do Facebook ou Twitter são utilizados para acusar pessoas. Além disso, têm ocorrido invasões em espaços políticos, escritórios, jornais, estações de rádio, e em casas de militantes. Muita gente foi levada sob custódia e muitas ainda estão presas. Através das invasões, os casos se tornam secretos - o que significa que você não pode ter acesso ao advogado por 24 horas, e você não sabe do que está sendo acusado - e muitas coisas irrelevantes são levadas como "provas" no sentido de inventar evidência ou esconder evidências da ação policial. O Estado está usando a revolta para suprimir toda oposição social. Erdogan parabenizou o departamento de polícia pela sua conduta durante as ações, apesar das pessoas que eles assassinaram. O oficial de polícia que atirou em Ethem Sarısülük - ele morreu após ter levado um tiro na cabeça - foi julgado e solto pelo tribunal com um julgamento pendente. Enquanto a opressão cresce, as pessoas se tornam cada vez mais cheias de fúria em função do terrorismo de Estado e das injustiças. Pergunta > Como isso irá transformar o futuro das lutas sociais na Turquia?

Resposta < Isso depende dos grupos organizados, eu acho. Porque, para resistir, é importante não só dar continuidade às ações, mas também pensar e agir coletivamente, além de modelar nossas vidas coletivamente. As experiências que obtivemos desta rebelião irão ajudar nas próximas batalhas, como na Grécia em 2008 e depois em 2010. Após a perda de legitimidade do Estado, se combinarmos o ódio contra o capitalismo e a resistência contra a repressão social, e se isso fizer com que as pessoas se auto-organizem em todos os âmbitos, então não teremos medo de falar em revolução social. Mas ainda é muito cedo. Estes são os primeiros passos para a revolução social no futuro. Como disseram nossos camaradas, "O nosso século começou". Com solidariedade revolucionária, Anarquistas na Turquia - Ação Revolucionária Anarquista Tradução > Malobeo

agência de notícias anarquistas-ana

Sobre o mar do Anil
Despedida de andorinhas —
O céu escurece.


Benedita Silva de Azevedo


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