29 abr 2014

Um conto para Cosidó (director “político” da polícia espanhola)

Como todo contista gosta dos contos, vou-lhe adicar este por ver se gosta tanto como eu gostei com o seu dos “1700 Polícias Perdidos e os 40 Grupos Ultra”:

Isto que lhe vou contar é um sucesso real, aconteceu-me quando rapaz, durante os recreios da escola donde, por causas que já contarei, surgira um divertimento grupal nos primeiros dias de escola, em poucas palavras o jogo consistia em juntar-nos os de 8ºA da EGB* e ir zurrar-lhes aos pequechos de 6ºC, com quem coincidiamos no horário de pátio, e aos que levávamos apenas dois anos pero um monte de diferência em quanto a constituiçom física e adestramento de guerrilhas de ataque.

A vida (depois soubem que fora umha decissom política) nos deparara ser a 1ª geraçom que experimentara o cámbeo do bacharelato antíguo por este sistema novidoso de siglas e etapas e as consequências foram fatalmente favoraveis para que nos empoleiráramos como galos de briga contra todos os crios do cursos que iam detrás nossa. A xeraçom antérior à nossa, que ainda apandara com o bacharelato antigo, foram afastados do nosso futuro escolar pois desde havia já um monte de anos deram o salto ao instituto, iam com dois cursos por riba nossa pero ficavam longe dos muros do nosso colégio (só para machos), do que nos figeramos amos e donos por pleno direito de primogenitura ja que, desde que os nossos “precedentes” migraram do cole ao insti com tam só 10 anos, eramos os maiores da escola e com este curso já iam ser cinco anos que nom tinhamos quem batera em nós. Eramos os reises da selva e esse ia ser o nosso derradeiro curso de domínio antes do inevitável salto ao instituto e ao também novidoso BUP.

O colégio era enorme, amuralhado como um cárcere, mantinha os portalons de saida fechados durante as aulas e o recreio, com o que os professores (também todos homes) deixabam-nos a nossa bola durante o tempo de recreio o que ia facilitar-nos enormemente a tarefa á que a deusa fortuna nos ia aventurar.

Aquele setembro, como qualquer outro, vinhera chuvoso e no primeiro dia de escola caiam chuços de ponta, com o que nom sucedeu nada. Além, estavamos todos demasiado nerviosos ao volver atopar-nos depois dumhas felices feiras e “os maiores” estavamos moi imbuídos fazendo fachenda dos nossos esquálidos biceps de adolescentes de 13 ou 14 anos entre assombros polos estirons experimentados em apenas tres meses, e os pelos que nos começaram agromar nos nossos bigodes. Tudo isso, combinado com as hormonas que supuravamos a borbotons e o feito de ser o início do nosso derradeiro curso na EGB, nom nos deu nem para botar umha olhada a toda a récua de crianços que iamos deixar atrás ao final de curso que agora começava.

Seria ao dia seguinte, quando já nos iamos pôr mão por obra a tareia. E nom foi por nom ter melhor que fazer, senom por umha fatal decissom do director da escola: Com o galho de evitar demasiado alvoroto no momento da saida ao recreio acordara agrupar-nos em periodos de méia hora numha mistura sem sentido de cifras e letras, e aos de 8ºA tocou-nos com 7ºB e 6ºC a saida das 12 horas, com um intervalo na saida de aulas de 5 minutos entre curso e curso.

Os de 7ºB, os primeiros em sair as 12 em ponto, ficaram nos soportais dianteiros, acovilhados da chuva fina que caia nesa hora, entanto os de 6ªC cometeram a ousadia de ir-se agochar na cancha de basquet para jogar a futebol sala com umha bola de tenis a pesares da chuveira que caia. Essa cancha estava ubicada na parte traseira e ficava fora do campo visual da sala de professores, e por direito de primogenitura vinha sendo nossa zona de jogos desde havia um monte de anos. E esse atrevimento ia ser sua perdiçom!!

Quando saimos nós a isso das 12 e 10 minutos, lá fumos cara a cancha, e quando avistamos aos “peques” (recém saidos da 1ª etapa da EGB) fumos lá, enchidos de razom e de argumentos, a encarar-nos com eles, quem, nada mais ver-nos vir, se percataram do seu erro e sairam correndo a zume de caroço cara o campo de futebol (mais bem de barro) e nós, bravos e abigodados, em troques de ficar contentes por ter apanhado o espaço que queriamos, sairamos tras deles como bestas desbocadas. Apanhamos a uns quantos e surramos neles até
que ficamos cansos e contentes, marchando ufanos depois volta á cancha, nom sem antes ter-lhes ameaçado com nom querer volver ve-los por ela.

O dia seguinte a mesma história. Os incautos de 6ºC confiaram em que, tras acusar-nos ao seu professor do que lhes figeramos, iam ter cancha livre. Mas, na altura, os professores estavam ainda em fase post-feiras e nom tinham esses miramentos que há agora com as liortas entre nenos, naquel tempo nom se conhecia a palavra bullying e as brigas entre nenos eram alentadas sem miramentos mesmo por adultos que observavam cumplacidos até que saia sangue (sinal convida socialmente para para-la briga e separar os contendentes). Tal as coisas a nossa sorpresa foi comprovar que o atrevemento desses crios nom merecia umha outra resposta que ir bater neles de novo para que nunca mais se lhes passara polos miolos achegar-se á nossa cancha de basquet. Assim foi como bater nos pequechos de 6ºC se passou a ser o nosso primordial divertimento naqueles primeiros dias da escola.

O quarto dia os de 6ºC já se reuniram no campo de barro, era fodido jogar lá porque arriscavas-te a levar umha tunda na casa por chegar enchido de barro até a cintura, e no cru inverno (no norte da Galiza o inverno começava com o curso, a mediados de setembro) era fácil que tal coisa acontecera. Era, sem dúvida, a melhor zona de jogo porque ficava num afundimento de terreo, abaixo da cancha de basquet, que era totalmente oculta desde as fiestras do edifício da escola, pero naqueles começos de curso era um lodaçal intransitavel. Nom tinha muito sentido que fossemos nós lá, a bater-nos nesse campo e buscamos o jeito de que sairam do lodaçal para nom ter que manchar-nos de sangue (digo de barro), e acordamos ir provocar-lhes só uns poucos de nós, os mais miudos ou com menos bigodes e também os que mais corriam, para que os incautos de 6º sairam a satisfazer a sua justa vingança tras nossa, enquanto o resto aguardavam ocultos na cancha para pilha-los em zona seca. Tudo saiu á perfeiçom e umha vez mais malhamos a gosto em todos eles.

Na sexta, último dia da semana escolar, presentiamos que os de 6ºC já andariam com a mosca na orelha e nom ia ser doado saca-los do lodaçal. Assim que decidimos arriscar-nos e que fosse só um de nós para motivar-lhes. O risco nom era moco de pavo assim que acordamos tiralo a sortes. Eu fum o “afortunado”, nem era dos mais bigodudos nem dos mais magros, pero tinha um bo registro em carreira curta e lá foi confiado em que de sair algo mal, os meus compas assistiriam-me em breve e volveriamos surrar neles. Mas nom fumos conscentes, em nengum momento, em que eles, depois de tres dias seguidos de levar as de perder, também maquinaram a sua defesa.

Já em baixando cara o campo surpreendeu-me ve-los jogar futebol com um “balom de reglamento” animosos e como absortos e alheios a minha presência ameaçante. Estava planificado atopalos como gazelas arrumadas em manada e em troques, os mais deles, chimpavam dispersas detrás do coiro. Avistando as peças decidim dar caça á mais dévil delas: o porteiro da equipa agora em posiçom atacante, quem ficara sozinho baixo os paus. Corrim presto cara ele, como leõa tras a sua presa, sem me percatar de que o resto dos jogadores deixaram o balom e o jogo e vinham em manada por mim. Quando apercebim o meu erro estratégico e táctico, estavam a uns passos de mim vociferando coléricos: Vingança!. Nom sei quanto tempo se passou, mas a mim parecera-me umha eterninade, tiraram-me o chão e surr“1700 Polícias Perdidos e os 40 Grupos Ultra”aram-me do lindo amoreados sem ter case espaço para dar-me de punhadas e couces e feito isto sairom ás carreiras deixándo-me lá ciscado, malhado e cheio de barro até as orelhas. Depois soubem que os meus compas estiveram distraidos aguardando ver subir as gacelas como quando cruzam o Serengeti e só se percataram da situaçom ao escutar o seu vozeio amaeçante, mas, no tempo que tradaram em reagir, os ananos de 6ºC já liscaram como almas que leva o demo a agochar-se nos soportais junto aos de 7ºB e lá desfrutar das meles do seu exitosa vingança e dos aplausos solidários e efusivos destes últimos, que se bem se mantiveram ao margem em tudo momento, já tinham levadas muitas nossas em outros anos para ter bem claro com quem posicionar-se.

Esse dia levei malheira dupla, a escusa de que caera na aula de gimnasia nom colou na casa, minha nai leva-va conta de que os venres nom tinha tal “matéria” e tirou de sapatilha com soltura.

Durante a fim de semana tivem tempo para calibrar o que se passara. Na noitinha dessa mesma sexta, arrumado entre sabas, múltiples vinganças se me passavam pela minha cabeça quente (nos dois sentidos, porque levara umhas quantas labaçadas e tinha a sensaçom de que o coraçom se me subira a cabeça tal como me latejavam as meixelas). O sábado dou-me por botar as culpas do que se me passara aos meus supostos camaradas na luta por nom ter estado espelidos e mais atentos á jogada. E o domingo, já com a cabeçinha fria, deu-me por entender que a surra levada, tinha sido bem merecida, nom por mim senom por qualquer de nós, os abusons de 8ªA que, afeitos a nom ter depredadores na escola, convirteramos, por umha má decissom dos de 6ºC, em autênticos descerebrados sem razom algumha.

A segunda feira caminhei com aires novos cara a escola, e o sol saira com brios novos dando os seus derradeiros folgos do vrão, mas por precauçom e vergonça, demorei até última hora a minha chegada, e quando aterrei já estavam entrando cada quem na sua aula. A minha entrada na aula foi saudada com palmadas de ánimo polos meus compañeiros mais cercanos a mim e um ruge-ruge “in crescendo” de promesas de vingança que foi de imediato aplacado pelo mestre. Haveria que aguardar á hora de recreio.

Quando saimos observamos que nom estavam os de 7ºB nos soportais e tomamos esse espaço para reunir-nos e compartilhar as ideias que cada quem de nós maquinara durante a fim de semana, havia mesmo quem figeram reunions nesses dias de asueto e tiraran conclusons grupais para propôr ao resto. Havia tácticas e estratégias para todos os gostos, se bem todas iam encaminhadas a como dar-lhes ao de 6ºC a maior tunda da sua vida, da que iam lembrar-se para sempre polo seu atrevemento. As vozes misturavam-se a berros como querendo dar maior peso aos argumentos de cada quem, havia desde quem propunha reforçar-se com melhor armamento até quem era partidário de enterra-los baixo lodo, eu entretanto aguardava em silêncio, já tomara qual ia ser minha actitude e nom ia muda-la pero prefrim aguardar a que todos se espraiaram. Umha vez feito o silêncio, um dos meus melhores compas aclarou que el estava disposto a fazer o que eu quiger e todos se sumarom á proposta. Dalgumha maneira todos se sentiram culpáveis do ocorrido e eu era um deles, nem o mais apreciado nem o mais envejado, pero era um deles e já levavamos muito recorrido juntos.

Eu sempre fum de palabra fácil, dotado pela natureza ou pela genética (meu pai tinha o apelo de “O Lábias”) e quando lhes digem que eu nom queria ir mais alá nesse macabro jogo, que os pequechos tinham as suas boas razons para ter-me feito o que me figeram, que eramos uns abusons e que tinhamos que comportar-nos como ejemplo para os que venhem atrás nossa e mirar de fazer as pazes com eles, os meus compas ficarom boquiabertos; a minha opiniom caira como umha bomba num cemitério. Mas era a minha opiniom e nesse momento, o que eu quiger, ia a misa. Digem que deixaram da minha mão resolver o entorto e fum só cara o campo de futebol, isso sim, os meus compas iam discretamente uns metros detrás minha.

Quando cheguei ao campo, o sol dava forte no mediodia e observei que entre os de 7ºB e os de 6ªC montaram umhas partidas ao ancho do campo e corriam tras os coiros alheios a minha presência, considerei prudente fazer-me ver e peguei um berro chamando ao porteiro, o mesmo que na sexta fora a minha peça escolhida, este nada mais ouvir-me, saiu espelido pedindo auxílio e deixando baleiros os paus (mais bem as “chupas” amoreadas que faziam as vezes de postes) e até lá fum eu, a cubrir o posto que o fugido deixara. As partidas interrupirom-se de imediato e mascava-se a tensom. Na cima da lomba, apostados em fieira, os meus companheiros oteavam a jogada expectantes. Entom foi quando berrei perguntando: Pode-se jogar?

Aforrarei os momentos posteirores, os diferentes reagires no campo e na lomba, mas desde aquele dia os recreios forom um jogo contínuo entre tres geraçons, misturados todos os números e letras numha sinfonia de alegros, andantes, minuetes e rondós.

Como digem ao princípio, este conto está baseado em feitos reais, moi edulcorados, e como o de vostede, tergiversado o necessário e suficiente como para ficar eu como um heroe sem culpa.

Tudo vale no mundo dos contos. A verdade é que este meu nom chega nem com cem léguas aos de seu dos “1700 Polícias Perdidos e os 40 Grupos Ultra” ou o que contou quando oda imposiçom da Medalla de Ouro ao Mérito Policial á “María Santísima del Amor de la Cofradía de Nuestro Padre Jesús El Rico” pela sua "dedicación, desvelo, solidaridad y sacrificio", nem ao do seu homólogo director “político” doutro corpo repressivo espanhol, o insigne Cuco Fdez de Mesa, porque o seu conto dos guardas que fam a raia divissora de fronteiras na areia, e que ao disparar ao ar matam a quince persoas, nom tenhem parangona possível.

eDu

*EGB

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