Também na Argentina, os despejos contra tudo aquilo que seja oposto á cultura legal do "fascismo-democrático" ou "demo-fascismo", tende a ser perseguido, acosado e mesmo destruido com sanha e raiva, pelos seus corpos repressivos, mas neste caso, as compas que ocupavam “La Grieta” e a biblioteca “Los Libros de la Esquina”, como elas mesmas contam no seu manifesto, a posteriori: "Decidimos opor umha resistência, apesar de haver assumido abandonar o espaço, cortando a rua com barricadas com fogo e atacando a polícia. Queremos demonstrar que se pode e que se deve resistir". Colamos de seguido e á íntegra o seu Comunicado facilitado pela Agência de Notícias Anarquistas (A.N.A.) no que querem "deixar claro algumhas questons sobre as mentiras da mídia e os comentários (dos que falaram com boa e má intençom) da vizinhança":
Na quarta-feira, 9 de abril, entre as oito e nove horas da manhã, foi feito o desalojo da casa que ocupávamos: “La Grieta” e a biblioteca “Los Libros de la Esquina” deixaram de existir.
O espaço esteve habitado por mais de 11 anos. Tanto sua origem como suas características físicas fizeram com que o lugar tivesse diferentes dinâmicas, confluindo nele diversas iniciativas. A parte de cima da casa sempre foi umha moradia que alojou a muitxs companheirxs, okupas e punks de diferentes partes do mundo. Na parte de baixo, por sua vez, foram levados adiante alguns projectos que já vinham funcionando anteriormente em outras ocupaçons, como é o caso da biblioteca “Los Libros de la Esquina”, entre outros.
Tanto La Grieta como casa e a biblioteca, como espaço social, estavam a sua maneira experimentando outra forma de vida. Outra forma de relaçons, fora das convençons sociais, da lógica capitalista e de consumo. Criando um momento de ruptura com o sistema, mediante a propaganda e a acçom, com ideias e prácticas concretas. Contagiar a autonomia e propagar umha crítica (e umha actitude) antiestatal e anticapitalista.
Entom, a partir deste lugar, queremos deixar claro algumas questons sobre as mentiras da mídia e os comentários dos vizinhos (dos que falaram com boa e má intençom).
A biblioteca nunca foi sede de nengum partido de esquerda, nem bancada por ninguém. Nunca quisemos legalizar o espaço, nem pedir nengum tipo de subsídio. Estamos contra a dominaçom em todas as suas formas... Se manteve até o último dia, por aquelas pessoas que se reconheciam no projecto ou simpatizavam com o lugar, que sempre funcionou de forma autônoma e autogerida, e sim, podemos dizer que era um pretexto. Mas nom um pretexto para permanecer em umha casa ocupada “sem pagar impostos”, e justificar nossa existência, como afirmaram alguns reacionárixs do bairro (todos esses entusiasmados com a ideia da segurança, o projecto Cinturom Sul e com umha nova Av. Patricios, livre de lixo e imigrantes, a mesma classe de gente que está a favor da pena de morte e dos linchamentos). Dizíamos, era um pretexto. Um pretexto para encontrar-nos. Nossas portas estiveram sempre abertas a quem quisesse participar. Nom faltaram actividades e obradoiros que convidassem a aproximaçom. Nunca fomos bibliotecários oficiais e nunca quisemos sê-lo. Com nossos acertos e erros, sempre tentamos projectar de forma clara nossas ideias e isso aproximou e afastou a mais de um/ha. Nom queremos nada do Estado e o que queremos pensamos arrebatá-lo. Nom é demais dizer que nossa luta ultrapassa as paredes de umha biblioteca e tentamos levá-la a todos os aspectos de nossa vida.
Por outro lado, cabe esclarecer que semanas antes do despejo, todo o material de leitura e de arquivo que havia na biblioteca foi retirado e levado a um lugar seguro. Outras coisas foram dadas a espaços e pessoas. O que nom pudemos e nom quisemos guardar, serviu para alimentar o fogo que cortava a rua. Preferimos que terminasse dessa forma, que apodrecendo nos depósitos onde se alojam as coisas que arrebata a justiça nos processos de desalojo.
Os feitos da manhã de 9 de abril, os quais foram distorcidos pela imprensa, serviram para romper com a paz social que reina na cidade, atrapalhando a jornada do oficial de justiça encarregado de executar a medida de desalojo. Decidimos opor umha resistência, apesar de haver assumido abandonar o espaço, cortando a rua com barricadas com fogo e atacando a polícia. Queremos demonstrar que se pode e que se deve resistir.
Que a violência que exerce cotidianamente o Estado sobre nós deve ser devolvida. E afirmar precisamente que a violência nom é umha barricada, senom o desalojo que deixa na rua a milhares de famílias, o assassinato em mãos da polícia de centenas de jovens todos os anos e a prisom de outros tantos em cárceres e delegacias; a rotina do trabalho assalariado, do consumo e o controle social. Essa é a violência, a do Estado e do Capital: o nosso é um acto de dignidade. Ao desalojo do espaço, tentamos resistir, sustentando as ideias que nos mobilizaram a persistir com o projecto durante tanto tempo, e que nom nos deixavam ir sem pelo menos tentar obstaculizar a execuçom, com os meios ao nosso alcance e visibilizar assim que há outras posturas além das que se propagam no discurso legal e democrático no qual a realidade só é apresentada segundo a razom do Estado (ou seja, a do sistema).
Temos a alegria de seguir encontrando-nos com xs companheirxs e com todxs xs que creem na liberdade. O gratificante de lutar lado a lado em umha mesma batalha supera qualquer nostalgia da perda de umha antiga casa caindo aos pedaços. Abandonamos o lugar da forma que nós escolhemos e nos sentimos acompanhadxs em nossa decisom e isso nos dá um alento mais motivador ainda. Após umha experiência de tantos anos, aprendemos e crescemos. Parafraseando os miseráveis vermes do oficialismo e a toda sua estirpe de demagogos, nos animamos a dizer comicamente que esta é nossa década ocupada.
Nós seguimos de pé!
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