29 abr 2012

Sementando para o 1º de Maio - "Queremos Tudo!!"

Oferecemos um extracto do livro “Queremos tudo” (1971), novela de Nanni Balestrini onde narra a história dum jovem qualquer do Sur de Itália, que nos frenéticos anos 60, emigra do seu povo do campo do sul até Turin, onde afronta-se à vida e a sua cara mais vil: o trabalho, afrontando-o com visceralidade e irremediável ódio, e onde, entroutras coisas, da conta das luitas nas fábricas da FIAT e critica, por suposto aos empresários, aos jornais burgueses e mesmo aos sindicatos e partidos da esquerda:

"Companheiros depois de todas estas semanas de greve nas que pusemos de jeonlhos ao patrom, dim-nos que nom temos que exagerar. Dim-no-lo os sindicalistas na fábrica, dim-no-lo os jornais afora. Que se as cousas seguem assim terminarám numha crise que este descenso da produçom arruina a economia italiana. E depois acabaremos estando pior do que antes, que haverá paro e fame. Pero a mim nom me parece que as coisas estejam indo assim. Digamos além, que, como disse o companheiro fai um anaco, que se a economia dos patrons cae em picado a nós nom nos importa propriamente nada. É mais alegra-nos.

Tudo isto é certo pero há algo mais. E é que a nós nom nos importa nada porque sabemos que, até que nom mude tudo, sempre seremos quem estejamos pior. Acaso nom somos nós quem siempre temos pagado o preço mais alto em todas as luitas? Companheiros: Eu som de Salerno, fiz todo tipo de trabalhos tanto no Sur como no Norte e comprendim que o operário só tem duas possibilidades: ou um trabalho massacrante quando as coisas vam bem ou o paro e a fame quando vam mal. Nom sei moi bem qual das duas é pior. Em qualquer caso nom é o obreiro quem pode decidir sobre isto, senom que é sempre o patrom quem decide.

É inútil entom que, quando nos cabreamos porque já nom podemos mais, nos venham logo a suplicar que voltemos ao trabalho. Venhem-nos com questonamentos morais, de que se somos um só pais com um só interés geral, que cada quem tem a sua funçom e um deber e esse tipo de cousas. Venhem com a velha história de que o estómago nom pode comer se os braços nom trabalham e que assim tudo o corpo morre. Pedem-nos, ameaçam-nos com que voltemos a trabalhar porque senom será pior também para nós. Pero as cousas nom som assim, porque, como disse antes, entanto eles tenham o poder, com esta gente morreremos sempre nós e em qualquer caso, tanto se trabalhamos como se nom.

Nom caiamos mais nesta trampa, nom formamos parte dum mesmo corpo. Nom temos nada em comum, somos dous mundos diferentes, somos inimigos e ponto. A força mais grande da que disponhemos é precisamente o feito de ter-nos convencido, dumha vez por todas, de que nom temos nengum interés em comum com o trabalho dos patrons e com o Estado dos patrons. Mais bem temos intereses encontrados. Todos os nossos objectivos materiais oponhem-se a esta economia, a este desenvolvimento, estám contra o interés geral que nom é senom o do Estado dos patrons.

Agora dizem-nos que a Fiat vai abrir umha fábrica na Rússia, em Togliattigrado, e que todos teremos que ir lá a aprender como se trabalha baixo o comunismo. É que diantres nos importa isso se também na Rússia os operários som explorados polo Estado socialista em troques de polos patrons capitalistas??. Quero dizer que isso nom é comunismo, que é algo que nom rula bem. De feito, parece-me que se preocupam mais pola produçom e por ir à Lua que polo benestar da gente. Porque o benestar está antes que nada e se passa por trabalhar menos. É por esta razom pola que lhes dizemos nom aos assustados patrons que agora nos pedem que lhes ajudemos com a sua produçom. Que nos explicam que temos que participar porque a nos também nos convem.

Dizemos nom às reformas polas que nos quere fazer luitar o partido e o sindicato. Porque temos entendido que istos só servem para melhorar o sistema com o que nos exploram os patrons. Nom nos interesa ser explorados melhor com algo mais de casas, de escolas e de medicinhas. Tudo isto só melhora o Estado, o interés geral, o progresso. Mas os nossos objectivos oponhem-se ao progresso, oponhem-se ao interés geral, som nossos e ponto. Os nossos objectivos, os objectivos materiais da classe operária som inimigos mortais do capitalismo e dos seus intereses.

Começaramos esta luita reclamando mais dinheiro e menos trabalho. Agora sabemos que ésta é umha consigna subversiva que fai saltar polo ar os projectos patronais, tudo o plano do capital. Agora temos que passar da luita polo salário à luita polo poder. Companheiros rejeitemos o trabalho. Queremos tudo o poder, queremos tuda a riqueza. Será umha longa luita de anos com éxitos e fracasos, derrotas e vitórias. Pero é esta luita a que agora devemos começar, umha luita a fundo, dura, violenta. Temos que luitar para que já nom exista o trabalho. Temos que luitar pola destruiçom violenta do capital. Temos que luitar contra um Estado fundado sobre o trabalho. Digamos sim à violência obreira".

4 comentarios:

  1. Este livro é, sinxelamente brutal! umha descriçóm impressionante do obreiro-massa da década dos 60, mas aínda é melhor a novela posterior a esta de Nanni Ballestrini "Los Invisibles" que narra as experiencias de luitas autónomas na Italia do segundo lustro dos 70, centrado no marco da Universidade, e com um remate trágico... nom sigo, que tampouco é questóm de destripar-vos o livro... HEHEHE

    Um Saúdo

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  2. Tb há um filme que relata a historia de "Radio Alice" na cidade de Bolonga (se nom lembro mal) tb na década dos 70. Mui recomendável. O seu título é "Lavorare com lentezza" (Guido Chiesa, 2004) (Trabalhar com lentitude) Nom é difícil atopar os subtítulos!

    http://archive.org/details/lavorare_con_lentezza_radio_alice

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