Já saiu da imprensa o nº 6 deste jornal de informação crítica das compas anarquistas do Portugal:
As últimas eleições Europeias, a par com outros atos eleitorais dos últimos anos, mostraram que a abstenção tem sido a opção e a escolha mais sensata de boa parte dos portugueses. Ao mesmo tempo, o boicote como forma de protesto surgiu em várias zonas do país, como na aldeia de Gemieira em Ponte de Lima, onde os populares tentaram impedir a abertura da mesa de voto, em protesto contra a linha de muito alta tensão cujo traçado previsto atravessa a aldeia. Por este andar, os abstencionistas serão igualmente os vencedores de outros tantos actos eleitorais futuros. No entanto, nestas últimas eleições foi atingido um novo máximo, e esse Domingo, a 25 de Maio, nem sequer era um bom dia de praia… Imaginem só se fosse…
Esqueçamos o simulacro da política e os seus resultados, bem comentados na praça pública por profissionais da dissimulação, e concentremo-nos no essencial: a democracia, adornada com o sorriso do cidadão que vota, enfeitada pelo empreendedor que cria valor e perfumada pela insídia da igualdade de oportunidades, é uma perversa mentira. Vejamos, por exemplo, a violência e o caos que os variados corpos de polícia impõem sobre muitos dos habitantes, quando não estão a fazer teatro em frente da assembleia. De facto, a realidade em inúmeros bairros sociais das periferias de Lisboa, Setúbal ou Porto é de permanente estado de sítio e acosso policial. O preocupante é que esta é uma tendência que se alastra ao espaço público no qual todos caminhamos. Os transportes públicos são “protegidos” por empresas de segurança privada que agem sem qualquer tipo de controlo. Estão ainda por registar a maioria dos inúmeros casos de espancamentos que vão tendo lugar em comboios e estações desse Portugal fora. Na mesma linha, o metropolitano de Lisboa lança a campanha mais pidesca e bufa de que há memória na tentativa de lançar para cima daqueles que necessitam de transporte, não só a responsabilidade de controlar os seus vizinhos, mas também a culpa pelos erros de gestão da empresa.
A ordem e o normal funcionamento das coisas mantêm-se apenas pelo uso continuado da violência. Que o digam a FIFA e a Dilma que, para organizar a Copa do Mundo, têm de mobilizar autênticos exércitos de polícias e corpos de segurança para sitiar bairros e reprimir os protestos de habitantes e moradores, ou os assassinatos de crianças de rua por grupos de exterminadores, para “limpar” as ruas por onde os gringos vão caminhar… Tudo para organizar um evento desportivo megalómano e lucrativo.
A verdade é que quando a resposta coletiva se faz ver, os abusadores recuam. Do Brasil têm vindo bons sinais e na última semana de Maio em Barcelona, a demolição de um histórico centro social ocupado no Bairro de Sants transformou-se em dias de revolta e luta. Não só o Município recuou, como centenas de pessoas se organizam, neste momento, para reconstruir o edifício, deixando bem claro que é às suas próprias custas que a reconstrução será feita. Como dizia o anarquista Bakunin, cujos 200 anos do nascimento se celebram este ano, “A volúpia de destruir é também uma volúpia criadora”. E vice versa.
Nota do coletivo editorial: como terão notado os leitores do Mapa, a presente edição sofreu um atraso, pelo que pedimos, desde já, a vossa compreensão, esperando que nos continuem a acompanhar nos próximos números.
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