Quando os hipócritas-meias davam conta da obra e mirages de Mandela, nós no nosso afám contraditório com as mentiras e meias-verdades dessa imprensa, falavamos de Múmia Abu-Jamal, quem cumprira já 32 anos encirrado nas mazmorras dos EEUU; agora é o próprio Múmia quem opina ao respeito de-lo, num escrito de seu com data de 8 de dezembro (quatro dias após a morte de Mandela), que recebemos da ANA-Agência de Notícias Anarquistas e colamos:
Mandela purificado
Nasceu Rolihlahla em julho de 1918, numha naçom onde nom era realmente cidadám, num país chamado Uniom da África do Sul que fazia parte do Império Britânico.
O mundo chegaria a conhecê-lo como Nelson, o nome que lhe pugera um professor da escola primária. Nelson Mandela.
Finalmente, despois de viver 95 anos, Mandela regressou a seus antepassados. Entre o nascimento e a morte, ele abriu o caminho a umha vida assombrosa de amor e revoluçom, de luita e resistência, de prisom e isolamento, de liberdade e... trânsito.
Com sua morte, a mídia estadunidense o pintou como um tipo de líder africano dos direitos civis, talvez um Martin Luther King Quinto, com a auréola do cabelo branco.
Um presidente emitiu umha declaraçom lamentando seu “condenamento ilícito”.
De feito, é perigosamente enganoso fazer de Mandela um King ou um Malcolm. Nom era nem um nem outro.
Era simplesmente ele mesmo: um advogado africano que utilizou cada ferramenta a sua disposiçom, legal quando foi possível, ilegal quando foi necessário, para resistir a um sistema que esmagava as vidas africanas como se fossem casca de améndoa. Era um revolucionário, um guerrilheiro armado e comandante dum exército guerrilheiro, Umkhonto we Sizwe (Lança da Naçom) do Congresso Nacional Africano (ANC).
Despois de 1948, o governo da África do Sul se tornou um instrumento de terror e tortura que só um povo paranoico como os bóers sul africanos puderam montar.
Sob o estandarte do Partido Nacional, o governo erigiu a odiosa barreira do apartheid (“o estar a parte” em afrikaner), a qual levou a supremacia branca e a subordinaçom negra a níveis verdadeiramente doentios e desumanizados.
A África do Sul se tornou a encarnaçom do racismo branco legalizado e dumha descarada opressom brutal, planejada principalmente para obter e explorar o trabalho dos negros ao preço mais baixo. A cada oportunidade, este sistema semeou humilhaçom, dor e violência na vida dos africanos. Corrompeu cada faceta da vida africana – economia, educaçom, saúde, emprego e família – para o benefício dos brancos.
O Dr. Nelson Mandela foi encarcerado despois de ser encontrado culpado de sabotagem como parte de suas actividades guerrilheiras, e recebeu umha sentença de prisom perpétua.
O crescente movimento contra o apartheid e a subsequente campanha de desinvestimento que obrigou às instituiçons ocidentais a retirar seu capital investido no regime apartheid, persuadiu aos sectores líderes do poder branco sul africano a sentar-se na mesa de negociaçons e transformar sua política.
Fizeram-no com umha importante condiçom: Entregaram a máquina política do país ao Congresso Nacional Africano (ANC), sim. Mas liberaram a economia do controle político.
Kwame Nkrumah, o primeiro presidente da Gana pós-colonial disse umha vez que “A independência política sem independência econômica é só umha ilusom”. A certeza do adágio de Nkrumah se demonstrou quando se ganhou a independência sul africana: aos negros se abriu a porta a cargos electivos, mas se fechou a porta à imensa riqueza do país ao colocá-las em mans privadas.
O Dr. Nelson Mandela foi contratado para consolidar esta situaçom, e hoje em dia a África do Sul é umha das naçons mais desiguais economicamente sobre a face da terra, só rebaixada, talvez, pelos Estados Unidos.
Dito isto, o que fez Mandela foi dirigir umha naçom conhecida como umha pária internacional e transformá-la numha das naçons mais respeitadas do mundo. Fechou a porta da história a um país que, ao que parece, buscava tomar o lugar dos nazis em racismo e ódio.
O filho dumha família real dumha tribo africana, em terra ocupada do Império Britânico, numha naçom onde a raça e cor da pele deu a um o direito ao privilégio ou a opressom, abriu a porta a umha nova naçom quando saiu da prisom política para chegar à Presidência.
Esta é matéria dumha obra de grande dramatismo, de sonhos feitos realidade, de perdas épicas, de dolorosa solidom, de fazer o correcto no momento correcto.
Meu cunhado e diplomático estadunidense me disse umha vez que a África do Sul era o país mais bonito que jamais vira, mas que suas políticas e prácticas racistas o converteram num dos mais feios.
O Dr. Nelson Rolihlahla Mandela e o enorme movimento internacional antiapartheid, ajudaram a devolver essa beleza.
Mandela inspirou milhons, dentro e fora da África do Sul. Inspirou milhons de pessoas brancas e europeias com o que se chamou “reconciliaçom”, mas o que isto significava para eles era que o governo lhes permitiu ficar com suas terras e lucros ilícitos.
Os africanos receberam orgulho e domínio político; os brancos receberam riqueza, terras e privilégios econômicos.
Umha vez mais, os negros pagaram o preço da “paz social” e de um acordo político.
Talvez eliminou-se o apartheid, mas o privilégio, nom.
Para milhons de sul africanos, a longa caminhada à liberdade nom termina.
Desde a naçom encarcerada, som Mumia Abu-Jamal.
Domingo, 8 de dezembro de 2013.
19 dic 2013
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