14 jun 2013

A vitória do 99% frente ás torpeças de Samuel Juárez

Colamos com agrado este artículo de Rubem Centeno em Sermos Galiza ao respeito da situaçom criada pelo delegado do governo espanhol na Galiza com motivo do desfiuzamento de Aurelia Rey e as posteriores multas.

“No desfiuzamento da Corunha, o que se viu foi à polícia aguantando as acometidas duns bárbaros (…) Há umha estratégia para crispar (…) Tentam incendiar a rua (…) O parlamento é um galinheiro (…) Gostaria de ver no Bloque umha condena clara de Resistência Galega”.

Estas frases estám tiradas da entrevista ao Delegado do Governo na Galiza realizada há uns dias por um diário corunhês. Só lhe faltou dizer que o desfiuzamento de Aurelia Rey foi impedido pola violência da banda terrorista Tripla B (Bombeiros, Bárbaros e Bloqueiros). Som declaraçons que fam parte dum relato que nos pode soar a brincadeira, mas nom o é. O relato deve preocupar-nos porque existe. Existe no imaginário dalguns seitores políticos. E vivemos tempos nada tranquilos. Por isso é tam perigoso -e dá medo- ouvi-lo da boca de quem detenta o monopólio do exerciço da violência. Especialmente se quem detenta este monopólio é a força política herdeira dos genocidas impunes que afogarom em sangue esta sociedade há nom tantas décadas. O senhor Juárez deveria ser consciente do impacto que podem ter as suas palavras. Produzem medo. Digo-lho eu que ainda tenho familiares enterrados nas cunetas. Quiça é o que pretende. Produzir terror.

Agora pode ser Jorquera, o BNG ou a Plataforma de Afectados pola Hipoteca. Amanhá serám outras. E dentro dum tempo podemos ser todas, lembremos o poema de Bertolt Bretcht. Por isso é fundamental respostarmos ante as tentativas de criminalizaçom, todas juntas. Quando se criminaliza umha pessoa, um seitor, um movimento social nom se fai por desporto. Sabemos o que vem depois. Suspenssom de direitos fundamentais e medidas de excepcionalidade. Pobre daquela que for declarada arbitrariamente como terrorista! Do estado de direito passa-se ao tudo vale. Desde os movimentos sociais conhecemos mui bem como se articulam os espaços de impunidade que, amparados nos aparatos da segurança do estado, os diferentes governos utilizam para criarem chivos expiatórios, criminalizar ou, simplesmente, aterrorizar. Existe um continuum desde Brigada político-social franquista que chega até os nossos dias.

A Delegaçom do Governo a travês das forças de segurança dispóm de centos -quiçá milhares- de fichas policiais ilegais de activistas sociais deste país nas que mesmo constam os nossos gostos sexuais ou qualquer outro dado que poda ser útil para os seus fins repressivos. Activistas ligadas ao movimento ecologista, ao 15M, ao antimilitarismo, a Galiza Non se Vende, aos Centros Sociais, a plataformas vizinhais, sindicalistas, feministas ou simplesmente pessoas cumha determinada adscriçom ideológica (anarquistas, nacionalistas, independentistas...) som periodicamente submetidas a seguimentos e a pinchaços telefónicos. E quem é o mâximo responsável deste panóptico big brother na Galiza é Samuel Juárez, quem fai parte dum grupo de extrema direita na rede facebook no que se qüalifica as comunidades autónomas como “um error cometido en la transición”, abogando pola suspenssom da autonomia catalá “por separatista, naZionalista y antiespañola”. Cada quem pode pode pensar como queira, também o senhor Juárez, faltaria mais. O que já é qüestionável é que umha pessoa que fai alarde desta ideologia excluínte seja a encarregada de administrar a ordem pública e mandar as forças de segurança. O seu discurso asemelha-se perigosamente ao do clima de opiniom que a direita espanhola logrou socializar nos anos prévios ao levantamento fascista de 1936. Se lemos a entrevista que a Voz de Galicia publicou este domingo passado comprovaremos as similitudes do relato. Samuel Juárez, sem nengum tipo de rubor político, despacha-se cum cóctel de difícil digestom no que se meslam o desfiuzamento de Aurelia, os pressos independentistas, o deputado Jorquera e o BNG, os “bárbaros manifestantes” ou a “Resistência Galega”. Vaiamos por partes.

Aquel dia do desfiuzamento de Aurelia Rey diversos videos colgados na rede em tempo real derom a volta ao mundo com o que estava a ocorrer. Milhares de descárregas davam conta da mudança das relaçons de poder coas que opera a nova cultura política 2.0, também, no âmbito informativo. Por isso a entrevista ao Delegado do Governo é umha tentativa fracassada de quem ainda nom comprendeu que já nom existe hegemonia na conformaçom dumha suposta opiniom pública. Já nom estamos nos tempos de Franco nos que a imensa maioria da gente (in)formava-se polas mentiras e as manipulaçons do NODO. Pudemos comprová-lo de novo estes dias na Turquia, submetida polo governo Erdogan a um apagóm informativo tam inútil como infantil. A nova gramática comunicativa e as redes sociais posibilitam que todas sejamos emisoras e receitoras. Radicaliza a democracia. As declaraçons de Juárez chocam e indignam, e ao mesmo tempo produzem compaixom, porque estamos informadas e sabemos que está mentindo, tornando obscena e vulgar a sua intençom criminalizadora. A distância entre o pronunciado e a realidade é tam absimal que mesmo provoca vergonha alheia, produzindo o efeito contrário ao desejado. Samuel Juárez, caricaturiza-se a si próprio, convertendo-se a olhos da cidadania num espécie de “cantinflas”. Mas devemos estar atentas: seguirám insistindo. O Partido Popular está a tentar criminalizar todas as respostas populares às suas políticas. Essa é a sua estratégia.

Poucas qüestóns nos últimos anos tenhem causado tanta indignaçom como a actuaçom sem escrúpulos dos bancos. Entidades privadas que em todo momento contarom coa colaboraçom de administraçons políticas e judiciais, lançando ao abismo do desamparo social -ou mesmo do suicídio- a famílias ou pessoas que já de por si estavam a viver um auténtico drama.

Especialmente inaceitável é a cumplicidade activa das administraçons públicas, das forças de segurança ou das instâncias judiciais que, longem de cumprir co seu dever de proteger os direitos fundamentais da cidadania, sacrificarom estes -e de passo a sua própria legitimidade- em favor da usura infinita do grande capital bancário. Ante este panorama é perfeitemente explicável o movimento de rebeliom social que -em forma de desobediência civil- surgiu para tratar de parar esta barbárie. Quando as instituiçons nom estám onde deveriam nom só perdem a sua legitimidade a olhos da maioria: o seu vazio é ocupado por um poder constiuinte criado ad hoc pola gente. Desta maneira, a Plataforma de Afectadas pola Hipoteca, os escraches, Stop Desfiuzamentos ou as convocatórias de resistência civil ocuparom o espaço abandonado polas instituiçons.

Mas voltemos ao 18 de Fevereiro, dia marcado pola comissom judicial para o desfiuzamento de Aurelia Rey. Samuel Juárez nom só nom foi diligente: a sua ineptitude agravou o conflito até o extremo de pór em perigo a segurança pública. A um delegado do governo deveria presumir-se-lhe a arte e a capacidade de saber gestionar da melhor maneira os conflitos sociais. Mas Juárez carece de arte. A sua actuaçom é própria dum tecnócrata autoritário e ignorante da realidade social na que actua. Juárez nom soubo elaborar um bom diagnóstico da situaçom, e, ante a sua incapacidade, tratou de implicar a terceiros -como a polícia municipal ou corpo de bombeiros- para que lhe sacaram as castanhas do lume que el mesmo avivara. A situaçom foi-se-lhe das maos e os seus próprios erros contribuirom a multiplicar de forma colossal o êxito do movimento. O próprio Ministro do Interior deveu estar botando fume durante umha semana.

O erro que cometeu foi duplo. Em primeiro lugar infravalorou o sentimento unánime de rechaço social aos desfiuzamentos, ignorando também o savoire faire e a inteligência colectiva dumha multitude heterogênea de activistas inseridos no tezido social da cidade e nada marginais. A defessa física organizada entorno à vivenda foi tam ingeniosa que, quando lograrom despejar de manifestantes o portal e proceder a curtar a cadeia que o fechava, os uiperos atoparom um dispositivo que impedia a apertura da porta, tendo que dessistir no último momento, quando o caso alcançara já umha repercussom mediática de dimenssons extraordinárias.

Em segundo lugar, Samuel Juárez tivo a torpeça de enganar à gente, tensionando muito mais os ânimos. Algumha levava ali durmindo várias noites. Outra muita, concentrada desde primeiras horas da manhá. Passadas várias horas anunciava-se que o desfiuzamento ficava suspendido provocando a alegria generalizada. Sem embargo, o anúncio era umha trampa. Umha hora depois, quando a maioria das manifestantes abandonaram a zona, um impressionante efectivo de antidistúrbios curtava a rua para proceder novamente ao despejo. A notícia correu como a pólvora, a gente sentiu-se enganada, estafada. A raiva provocada polo engano de Juárez mutiplicou exponencialmente a indignaçom e o número de manifestantes que desbordarom os cordóns policiais, logrando paralisar por segunda vez aquel dia o desfiuzamento. Foi um êxito da gente. E como tal foi percebido polo conjunto da cidadania.

Com declaraçons tam desfortunadas e coa imposiçom de oito sançons administrativas o Delegado do Governo pretende fugir cara adiante eludindo as suas responsabilidades. Actua inspirado por aquel neno de primária que, ao ser descuberto in fraganti pola mestra fazendo algo que nom devia, inculpa aos demais: señorita, yo no fuí...fueron ellos! O pobre Juárez, para rematar o conto, inclui entre os sancionados ao bombeiro que se negou a curtar a cadeia, autêntico ícone da cidadania. E que nom dá umha! Enfim, que se pode aguardar dum senhor que afirma publicamente que os políticos imputados por corrupçom nom tenhem que demitir?

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