14 ene 2013

[Itália] Operaçom Ousadia: Carta de Giulia Marziale desde a prisom de Rebibbia

Há momentos nos que chega o sol, atravessa os barrotes, filtra-se polo cristal, atravessa a botelha que tês sobre a mesa, alonga-se a treitos sobre a mesa, quenta-te um pouco a orelha.

Há momentos nos que, de noite, miras ao teito, escuitas o silêncio, oes o ruido do vazio do corredor, escuitas o assobio dumha porta fechada.

Há momentos nos que sentas a fumar um cigarro no pátio e miras ao ceu e pensas que se creras em deus, agradecerias-lhe por poder desfrutar de tanta beleça também desde aqui.

Há momentos nos que caminhas polos corredores e pensas que nom te sairám mais dos pulmons.

Há momentos, tantos momentos, nos que o teu corpo detem-se e a tua mente imagina-se que destrue tudo aquelo que te passa polas maos.

Há momentos nos que pagarias ouro por umha boa cerveja fria.

Há momentos nos que te chega, nom sabes bem de onde, um olor a terra, a folhas, a outono e lembras.

Há momentos nos que o sol do ceo de outono fai-te volver pensar nas montanhas e no alento dos teus cans.

Há momentos nos que, finalmente, todas as palavras vazias desaparecem, todas as máscaras caem.

Há momentos nos que caem todas as dos demais sem que eles saibam de-lo.

Há momentos nos que caes na conta de que este lugar mudou-te e outros nos que pensas que serás sempre a mesma; e descobres-te e redescobres-te.

Há momentos nos que reconheces a hora do dia na que o ruido escuita-se nos corredores e te percatas de que se está fazendo normal.

Há momentos nos que, na noite, acordas dum chimpo porque umha luz espia-te o teu sono.

Há momentos nos que vês a umha mae chorando porque nom pode fazer a coisa mais natural neste mundo: estar com as suas crianças.

Há momentos nos que choras polo pranto dessa mae, polos abraços negados, polas relaçons mutiladas, porque pensas que nunca pagará ninguém por tanta dor.

Há momentos nos que pensas que poderias mirar durante horas a cara das companheiras que estám contigo, porque sabes que se nunca sentis-te medo deste inferno é só por esses olhos.

Há momentos nos que pensas na dor de quem vem a vissitar-te, nas suas caras que, cada vez que se vam, consternadxs, dim: “estamos deixando-a acá”.

Há momentos nos que o sangue gela-se ao pensar na liberdade, porque pensas que nom poderás sacar contigo às tuas companheiras.

Há momentos, tantos momentos, nos que umha risa rompe como um trono, como umha fervença desde um alcantilado e cae fresca sobre a pel, sobre a cara, na cabeça.

Há momentos nos que vês volver o sorriso à cara dumha companheira e pensas que nom queres nada mais do dia.

Há momentos nos que te chega a voz de alguém que saiu ou fugou-se e os barrotes se agretam e o sorriso é burlom.

Há momentos, tantos, constantes, repetidos, nos que pensas num feixe de resíduos, em chaves rotas, em uniformes queimados e sintes a frescura dos pês descalços sobre a erva e a respiraçom é profunda.

Para escrever a Giulia:

Giulia Marziale
CC Rebibbia Femminile
Via Bartolo Longo 92
00156 Roma
Italia

Colado de Informa-Azione

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