Reproduzimos a seguir texto divulgado pelo Coletivo Amig@s de Mumia do México e escrito por Luz María León Contreras, que deveria ser lido por ela durante o ato político-cultural em frente à Embaixada dos EUA, no Distrito Federal (DF), no dia 9 de dezembro (data do 32º aniversário da detenção de Mumia Abu-Jamal), mas por problemas de saúde isto não foi possível.
Estou cansada de escutar que com eufemismos se refiram a meus companheiros nomeando-os internos. Não são internos, são presos, não são centros de readaptação social, são cárceres, são os mesmos muros e as mesmas cercas que um dia apresaram as Revoltas, a Mandela e que hoje mantém a Mumia Abu-Jamal, os 9 de Move, os presos de Loxicha, os 5 cubanos que denunciaram o terrorismo de branco; esses mesmos muros que privam de sua liberdade a Gabriel Pombo da Silva, anarquista consequente. Também somos os mesmos de 500 anos, os que não se creem em seu conto democrático eleitoral.
Não é só um preso a mais, é um companheiro menos nas ruas. Mas isso sim é uma redação mais carregada de critica e sonhos que contagia e se estende por todas as geografias. Já não só haverá um a menos nas ruas, se construirá um nós dentro de suas jaulas e em breve as farão explodir.
Sabemos que nós somos os melhores, não vamos a ganhar esta guerra por só ser uma massa que se move de maneira homogênea, tampouco somos só uma soma de vontades, nós atuamos desde uma terceira pessoa do plural: um nós que se faz presente em cada ato político social, em cada marcha, se estende em cada bairro organizado, em cada comunidade que luta por liberdade e autonomia desde uma perspectiva pluricultural.
Habitamos a linguagem, resignificamos as palavras, somos corpos políticos. Somos corpos em fronteira que se bem falam uma língua imperial, desafiamos a colonialidade. A supremacia branca constantemente tenta aniquilar-nos, mas somos vários corpos resistindo ao longo do tempo. Sempre livres sem pedir permissão, não rogamos nem aclamamos seu perdão. A liberdade se pratica, não se autoriza.
Somos negros, somos morenos e de mil cores mais, somos da cor da terra. Por nossa convicção de sonhar, tentam nos matar, a outros tantos, todavia, tentam branquear. Os muros de suas prisões tentam nos calar e afogar dentro da solidão provocada pelo isolamento.
Me nego a aceitar seu sistema de justiça, que se empenha em julgar-nos sob um critério de racismo, rechaço toda ideia de cidadão que nos encerra em uma entidade uniforme ignorando toda diversidade. Não somos um grupo de cidadãos, somo o povo. Quero dizer ao Estado-nação que antes de sua formação fomos e temos sido uma comunidade e por voltar a consolidá-la vamos lutar. Por isso é necessário fazer desta nossa luta um exercício libertário. Forjamos unidade em cada palavra que floresce.
Somos a ameaça que encarna séculos de exploração sob seu sistema de exceção. Em cada um de nossos corações se conserva o sangue de índio e do cimarrón [selvagem], na memória nos antepomos a sua biopolítica, a seus dispositivos de poder. Suas políticas de despojo procuram nos desmobilizar, nos paralisar e logo nos aniquilar.
Sou um rosto coberto de sangue, os pulsos me ardem de tanta pressão, as algemas impossibilitam minha inteira respiração, me desnudaram e eletrocutaram, tentaram me sufocar. Ameaçaram-me e sim, até me fizeram tremer quando me ajoelharam sob seus fuzis e é a mim que assinalaram como a terrorista...
Somos todos os presos políticos e de consciência que não claudicam. Levo já aqui vários dias, anos, décadas, encerrada entre grades enferrujadas, em um reduzido quarto que desprende fétidos odores.
Fomos encarceradas por ser mulheres, por arrebatar nossa história de suas mãos, por arrancar nossos sonhos de seus bolsos, uma e outra vez cuspiam-nos na cara que estávamos ali por desafiar a seu patrão, fomos golpeadas, apalpadas e torturadas. Pronto arderão nas chamas da raiva de nosso povo, já vem o golpe da resistência que se multiplica em cada geografia.
Somos outras presas, aqui estamos presentes, fomos e somos a isca do sistema político, que nos usa para exercer poder, somos as mulheres violadas de Juarez, desaparecidas, vivemos o cárcere da dor. Somos as mulheres exploradas em maquiladoras, somos a mercadoria que eles veem em nosso sexo. Somo motim de sua guerra.
São presos por querer construir mundos novos, encarcerados por denunciar a exploração, a submissão e a invisibilização, murmuraram os de cima que começava a surgir o medo entre eles quando finalizava o nosso, então a raiva se converteu em ação e a saturação em organização.
Não à imposição de seu sistema carcerário, nós preferimos desaprender e re-educarnos, mas não castigá-los, reincorporar, mas não exilar. Presumem haver nascido na terra da liberdade, mas eu só vejo escravidão e verticalidade.
Há 32 anos que o Estado sequestrou a Mumia Abu-Jamal, acusado de matar um branco, julgado por brancos e perseguido pelos mesmos, ele não claudicou. Sempre que ele levantou o punho, nós o acompanharemos com o nosso. Não nascemos para obedecer, nascemos para sonhar e amar. E hoje não só exigimos sua liberdade, também celebramos sua fortaleza. Cada grito que retumba nas ruas vai por aqueles e aquelas que ainda não despertam, que estão imobilizados pelo medo, pela fome e pela injustiça.
Luz María León Contreras
Informaçao pela Agência de Notícias Anarquistas-ANA
21 dic 2013
Um grito pelas presxs em luta
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