6 mar 2013

Venezuela: morreu um lutador pelos direitos do seu povo

Comunicado do colectivo “El Libertario” (traduzido ao português por o Colectivo Libertario Evora do que copiamos e colamos):

Na noite de 3 de Março de 2013 foi assassinado na estrada de Chaktapa, na Serra de Perijá, o chefe yukpa Sabino Romero, conhecido pela sus defesa dos direitos do povo yukpa. Desde o dia 13 de Novembro de 2003, data em que o presidente Hugo Chavez anunciou em El Menito, Lagunillas, a triplicação da exploração de carvão para 36 milhões de toneladas métricas anuais nos territórios habitados por diferentes etnias aborígenes, Sabino Romero fez parte das comunidades indígenas que se mobilizaram para recusar as consequências nos seus territórios da expansão da megamineração na região. A luta de Sabino centrou-se em conseguir a demarcação e titularidade dos territórios indígenas, para o que realizou diferentes mobilizações tanto no estado de Zulia, como em Caracas, utilizando vários métodos de luta, entre eles a acção directa e a ocupação de terras indígenas na mão dos criadores de gado.

Os níveis de autonomia de Sabino Romero na sua luta motivaram uma estratégia múltipla face a todos os centros de poder regional e nacional interessados em continuar a exploração dos territórios indígenas. No ano de 2009 duas comunidades, uma delas com Sabino Romero, ocuparam uma herdade em Chaktapa, Zulia, para contrariar a paragem no processo de demarcação. O governo nacional iniciou então uma estratégia para dividir os ocupantes e, num golpe obscuro, três indígenas foram assassinados. Foi uma desculpa perfeita para tomarem militarmente a herdade e criminalizar Sabino Romero, que esteve preso 18 meses acusado de homicídio. Enquanto os criadores de gado o acusavam de ser um “ladrão de gado”, diversos sectores da região endureciam a sua guerra suja contra a luta indígena, com o apoio de aliados em Caracas: o ministro do interior e da justiça Tareck El Aissami e a ministra dos povos indígenas Nicia Maldonado. Enquanto o chavismo do aparelho distraia a luta indígena com dilações, desculpas e espectáculos mediáticos em cada 12 de Outubro, outros sectores do chavismo isolavam Sabino Romero e e os Yukpas da solidariedade de outros movimentos sociais e revolucionários independentes do controlo de Miraflores. A estratégia, a partir de todas as frentes, foi posta em marcha por todos e cada um dos beneficiários do sector primário da economia exportador de minerais e energia no país.

Estas versões contaram com a amplificação feita a partir do jornal oficialista Panorama, conhecido pelas generosas tabelas publicitárias recebidas das estatais PDVSA, Carpozulia e Carbozulia, e avalizada pelos organismos policiais e militares, os mesmos que têm vindo a infligir maus tratos às comunidades indígenas da serra de Perijá em cumplicidade com os criadores de gado da zona. É muito significativo que o plano para o assassinar que Sabino já vinha denunciando acontecesse agora quando o estado de Zulia está sob o controlo político do bolivarianismo. Como no caso de outros lutadores sociais que foram assassinados os escândalos mediáticos oficiais vão servir de aval para a impunidade.

A luta de Sabino Romero desenvolvia-se, no fundo, contra o modelo de desenvolvimento baseado na extracção e na comercialização dos recursos petrolíferos, de gas e minerais para o mercado mundial, papel atribuído à Venezuela pela globalização económica. O desenvolvimento do capitalismo petrolífero estatal minimiza as consequências sobre o meio ambiente, bem como sobre as comunidades camponesas e indígenas. A verdadeira causa para a paragem na demarcação e entrega dos territórios indígenas é que nelas existem recursos minerais para exportação.Por isso a resistência de Sabino era uma resistência ao modelo económico. Por isso havia que tirá-lo dali, de qualquer maneira. Por isso 13 yukpas foram mortos e todos ficaram impunes até hoje. E como se mostrou no processo contra as organizações que apoiavam a sua luta (Homoetnatura y Provea) era preciso cortar-lhes todos os apoios possíveis.

A partir de “El Libertario” repudiaremos e denunciaremos por todos os meios ao nosso alcance o assassinato de Sabino Romero e continuaremos a defender as lutas indígenas como todas as outras lutas sociais autónomas no país. Sabino junta-se a uma lista de lutadores assassinados durante o governo bolivariano por defenderem os seus direitos, tais como Mijaíl Martínez, Luis Hernández, Richard Gallardo e Carlos Requena.

A única divisão que enquanto anarquistas reconhecemos é entre governantes e governados, entre poderosos e fracos, patrões e trabalhadores, ou seja, vítima e vitimizadores. Por isso não pediremos nada aos seus vitimizadores e não esperamos nada da sua farsa de “justiça”, nem das lágrimas de crocodilo dos burocratas que conduziram Sabino à morte.. Como ontem, hoje e amanhã continuaremos mobilizados e ao lado de todos aqueles que lutam neste país contra o poder, esperando o dia que o sangue dos nossos possa ser reivindicado e vingado.

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