Os 32 presos mapuches em greve há quase dois meses, afirmaram que estão dispostos a chegar “às últimas consequências”, caso o governo do presidente Sebastián Piñera não aceite negociar.
"Há um acordo geral para resistir até as últimas consequências", informa a primeira declaração pública do grupo feita após o início da greve, em 12 de julho e divulgada nesta quarta-feira passada (8 de setembro). "Nós propusemos esta greve de fome como uma forma de protestar contra as arbitrariedades que temos que suportar”, explicou Mauricio Huaiquilao, porta-voz do grupo, preso na penitenciária de Temuco, a 750 quilômetros da capital, Santiago.
Segundo Huaiquilao, a greve de fome foi a única maneira encontrada para pressionar o governo para um diálogo. "Esperamos resistir até o final e transformar isso em uma forma de pressão que tenha resultados. Nos sacrificamos em nome de nosso povo, sem esperar que outros companheiros tomem a mesma decisão. É critério de cada um”, disse.
Huaiquilao, que se define como um "preso político mapuche" por estar com prisão preventiva decretada desde 5 de fevereiro de 2009, disse que a reforma na legislação anunciada nesta semana pelo presidente "é uma imposição que corresponde à mesma essência do governo, que não conversa".
Na terça-feira, Piñera assinou um projeto de lei para modificar a justiça militar, mas os mapuches consideram que a medida continua limitando o direito de se defender e de ter um julgamento justo. "As mudanças deste projeto de lei são mais uma imposição. Nós apelamos à consciência do governo para que sente e negocie conosco”, disse Huaiquilao.
Já o presidente afirma que a greve de fome é “um instrumento ilegítimo na democracia".
"Nós vamos morrer, talvez não nessa greve, mas nossos filhos vão ficar, e os filhos de nossos filhos vão ter que continuar este legado digno e de não submissão diante da injustiça e da infâmia do Estado", afirmou Mauricio Huaiquilao.
Greve líquida
Huaiquilao contou à agência de notícias espanhola Efe que, alguns presos de Temuco, já estão muito fracos, com desmaios constantes e dores no corpo. A greve de fome dos mapuche é líquida, ou seja, ingerem somente água.
Os mapuches formam o grupo indígena mais numeroso do Chile, representando 6,6% da população total, de 16 milhões de habitantes.
Os indígenas alegam que suas terras estão sendo exploradas “de forma irracional” por empresas privadas, que estão desmatando a região e prejudicando seu modo de vida. Criticam, por exemplo, a construção de uma represa e a instalação de uma fábrica de celulose, que desmatou dois mil hectares de terras de povos ancestrais.
Os indígenas estão nas prisões chilenas de Temuco, Concepción, Lebu e Angol por ações ligadas a reivindicação de terras que consideram ancestrais. Alguns deles estão na prisão há cinco anos. No início, 23 presos estavam sem comer, agora, há 32.
Tirado de Opera Mundi
10 sept 2010
Em greve de fome, presos mapuches dão ultimato ao governo do Chile
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